O desejo e a vontade de Deus

agosto 18, 2017


Os caminhos de Deus são insondáveis. O que, muitas vezes, para nós é impossível, se está de acordo com a vontade de Deus, se realiza de maneira prodigiosa. É na busca da configuração dos nossos desejos aos do Altíssimo, que encontramos o nosso caminho e a nossa felicidade. Eis um testemunho que ilustra esse encontro das duas vontades:

Sou Irmã Liziane, professa perpétua da Congregação do Preciosíssimo Sangue. Moro no Pará, minha terra natal. Agradeço aos Irmãos de Jesus Misericordioso pelo convite a mim feito, para contar um pouco do início do meu chamado à Vida Consagrada.  

Nasci em uma pequena cidade do Pará, chamada Castanhal; sou a última de três filhas. Meus pais Leonel dos Anjos e Maria Lindalva são naturas de outras cidades, mas, depois de um ano de casados, vieram morar nessa cidade. Como meu pai exercia a função de mecânico e eletricista, seu trabalho era em outras cidades e, às vezes, até outros estados. Um homem trabalhador, honesto, justo e responsável, mas que por consequência do trabalho longe de casa, foi ausência na minha infância. Hoje compreendo que ele buscou sempre dar o melhor para nós, e que fez muitos sacrifícios para não faltar o necessário em casa. A minha mãe foi uma mulher alegre, corajosa, trabalhadora; foi quem nos educou na ética, moral e vida cristã. Posso dizer que os valores que aprendi e vivo, devo em boa parte a minha mãe. Foi nesse ambiente que nasci e cresci.

Penso que Deus nos chama, nas pequenas coisas, acontecimentos do dia-a-dia, através das pessoas. Ele nos chama continuamente, até darmos uma resposta. Digo isto porque foi assim que ele fez comigo. Estava com minha mãe na missa, na capelinha, que fica a uns três quarteirões de casa. Era ainda pequena, acredito que tinha uns cinco anos, pois não conseguia subir no banco da igreja sozinha para me assentar. Nesse dia, na missa, vi pela primeira vez uma freira; o que me lembro dela é que sua veste era escura, mas o que me chamou a atenção foi o seu silêncio e como rezava. A presença daquela Irmã chamou tanto a atenção que, nesse dia, na missa, não incomodei a minha mãe para me levar a beber água ou ir ao banheiro, essas coisas de criança. Depois dessa missa, nunca mais vi essa Irmã, e com o passar dos dias, esqueci-me dela.

Com doze anos fiz minha primeira comunhão, o que para mim foi um grande presente: poder receber Jesus na eucaristia. No mesmo ano recebi o convite para fazer parte do grupo da Legião de Maria, do qual fiz parte até entrar no convento. Era um pequeno grupo, com membros de diversas idades, que se reunia nas segundas-feiras na sacristia da capelinha, a mesma igreja em que vi aquela religiosa. Nos encontros de segunda rezávamos o terço, depois tinha a proclamação do Evangelho, meditação e a partilhas das atividades feitas na semana. As atividades da semana eram visitas domiciliares, hospitalar; sempre íamos em três ou mais pessoas para visitas.

Foi nesse apostolado que nosso Senhor me chamou mais forte, surgia em mim um desejo, uma inquietação, de querer algo mais em minha vida, mesmo eu estando feliz nas atividades apostólicas. Essa inquietude me acompanhou por alguns anos, mas vivi tudo isso no silêncio. Posso dizer que minha adolescência foi bem vivida em casa brincadeiras com minhas irmãs e vizinhos, mas brincávamos só depois que fazíamos os trabalhos de casa.  Na escola, durante o recreio, rodada de conversa. Era assunto que não acabava, e havia, às vezes, no final de semana, um vôlei da nossa turma na praça. Meus amigos de escola eram, a maioria, de grupos da Igreja, então, com frequência andávamos juntos; foi um tempo muito bom.

Finalmente, compreendi o que era esse “mais” que desejava em minha vida. Foi dia 04 de abril de 2000. Estava na missa, naquela mesma capelinha perto de casa, quando o padre, na homilia, começou a falar sobre o que é ser um consagrado. O interessante é que o padre, nesse dia, falou durante a homilia toda sobre a vida consagrada, sobre o ser religioso, e nem era o mês de agosto [mês tradicionalmente dedicado às vocações]. Acompanhei cada palavra dele, e em meu coração dizia: “Então é esse ‘algo mais’ que desejo em minha vida”. Ao voltar para casa, com o coração mais calmo, encontrei minha mãe na frente de casa, conversando com a vizinha, dizendo: “Se for da vontade de Deus que umas das minhas filhas decida ser freira, eu abençoaria”. Quando ela terminou de falar, eu já estava bem próxima das duas, e olhando para minha mãe, com tranquilidade e paz disse: “Mãe, eu quero”. 

A partir daquele momento comecei vivenciar, mas com intensidade, a vida de oração e a eucaristia. Após nove meses, procurei o meu pároco para me orientar; ele mesmo entrou em contato com a Irmã responsável pelo convento que ficava perto da paróquia. Participei por quatro anos dessa congregação. Foi um tempo de muito aprendizado, porém adoeci de um câncer, o que infelizmente levou a congregação a não me aceitar. Foi um tempo difícil, de muitos questionamentos, porque não sabia o que Deus queria de mim. Embora a Madre dissesse que eu não tinha mais condições físicas para vida religiosa, ainda sentia o desejo em meu coração.

Ficou em mim o receio de procurar outra congregação, por medo de não ser aceita novamente. Em minhas orações, pedia a Deus que me mostrasse o caminho certo.
Certo dia, uma senhora leiga conversava com minha mãe sobre mim, e ela comentou, com uma madre de outra congregação, que conhecia uma jovem que queria ser freira. A madre se interessou em me conhecer, e pediu que a senhora me levasse até ela. Embora com medo de não ser aceita, decidi ir conhecer a madre.

No dia do encontro com a madre, ela me perguntou: “O que te motiva em ser freira?” Eu disse: “Desejo ser totalmente de Deus”. Em seguida, ela me explicou o que é ser uma Irmã do Preciosíssimo Sangue. Meu coração batia forte, e ainda mais quando a madre disse que eu poderia entrar na congregação. Durante alguns minutos pensei que tudo aquilo era um sonho e, colocando os pés no chão, disse à madre: “Não sei se posso entrar, tive um câncer”. A madre, abaixando a cabeça, silenciou. Pensei: “Ela também vai dizer não”. Mas, para minha surpresa, ela disse: “Isso não te impede de ser uma consagrada, uma santa religiosa”. As palavras da madre reavivaram em mim a alegria, esperança e a certeza de que o desejo de ser consagrada também era da vontade de Deus.

Sou feliz porque me encontrei em minha vocação, e como Irmã do Preciosíssimo Sangue. Em nossa vida nos deparamos com um pouco de tudo, sejam alegrias, tristezas, paz, tribulações. O importante é voltar o nosso olhar para Aquele que nos amou e sonhou conosco por primeiro.

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