Jornada de Santificação do Clero 2018
junho 04, 2018
A Jornada de Santificação do Clero 2018, na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, nos oferece uma ocasião para pararmos diante da presença do Senhor, para renovar a memória do nosso encontro com Ele e, assim, revigorar a nossa missão a serviço do povo de Deus. Não devemos nos esquecer, de fato, que o fascínio da vocação que nos atraiu, o entusiasmo com o qual escolhemos de caminhar na vida da especial consagração ao Senhor e os prodígios que vemos na nossa vida presbiteral têm origem no olhar de Deus a cada um de nós.
Todos nós, de fato, “tivemos em nossa vida qualquer encontro com Ele” e, cada um de nós, pode fazer a própria memória espiritual e retornar a alegria daquele momento “no qual sentiu que Jesus olhava”. (Papa Francisco, homilia na Santa Marta, 24 de abril de 2015).
Também os primeiros discípulos viveram a alegria da amizade com Jesus, que mudou para sempre suas vidas. Todavia, depois do anúncio da paixão, sobre seus corações se estendeu um véu de obscuridade que escureceu o caminho. O ardor da sequela, o sonho do Reino de Deus inaugurado pelo Mestre e os primeiros frutos da missão se encontram agora com uma realidade dura e incompreensível, que faz vacilar a esperança, alimentar as dúvidas e arriscou de apagar a alegria do anúncio do Evangelho.
É quando pode acontecer sempre, também na vida do sacerdote, a grata memória do encontro inicial, alegria da sequela e o zelo do ministério apostólico, talvez levado adiante por anos e em situações não sempre fáceis, podem ceder o passo ao cansaço ou a falta de coragem, fazendo avançar o deserto interior da aridez envolvendo a nossa vida sacerdotal na sombra da tristeza.
Neste momento, porém, o Senhor, que não esquece nunca a vida dos seus filhos, nos convida a subir com Ele ao monte, como fez com Pedro, Tiago e João, transfigurando-se diante deles. Conduzindo-os ao alto e à margem, Jesus cumpre com eles a maravilhosa viagem da transformação: do deserto ao Tabor e da escuridão a luz.
Caros sacerdotes, precisamos, a cada dia, ser transfigurados de um encontro sempre novo com o Senhor que nos chamou. Deixar-se conduzir ao alto e permanecer a margem com ele não é um dever de trabalho, uma prática exterior ou uma inútil subtração de tempo à incumbência do ministério, mas a fonte que jorra em nós para impedir que o nosso eis-me aqui seque e murche.
Contemplando a cena evangélica da transfiguração do Senhor, agora, podemos colher três pequenos passos, que nos ajudam a confirmar a nossa adesão ao Senhor e a renovar a nossa vida sacerdotal: subir ao alto, deixar-se transformar e ser luz para o mundo.
1. Subir ao alto, porque se permanecemos sempre centrados no fazer, arriscamos de nos tornar-nos prisioneiros do presente, de sermos sugados das incumbências cotidianas, de permanecer excessivamente centrados em nós mesmos e, assim, de acumular cansaços e frustrações que poderiam ser letais. Ao mesmo modo, subir ao alto é o antídoto àquelas tentações da mundanidade espiritual que, também atrás das aparências religiosas, nos afastando de Deus e dos irmãos, nos fazem recolocar as seguranças das coisas do mundo. Precisamos, ao contrário, de imergir-nos a cada dia no amor de Deus, em especial através da oração. Subir ao monte nos recorda que a nossa vida é um subir constante em direção a luz que vem do alto, uma viagem em direção ao Tabor da presença de Deus, que abre horizontes novos e surpreendentes. Esta realidade não deseja nos afastar dos empenhos de pastorais e dos desafios cotidianos que nos pressionam, mas pretende recordar-nos que Jesus é o centro do ministério sacerdotal, e que tudo podemos somente naqu’Ele que nos fortalece (Fl 4,3). Por isso, a subida dos discípulos em direção ao monte Tabor nos induz a refletir sobre a importância de destacar-se das coisas mundanas, para cumprir um caminho em direção ao alto e contemplar Jesus. Se trata de preparar-nos a escuta atenta e orante de Cristo, o Filho amado do Pai, buscando momentos de oração que permitam acolhida dócil e alegre da Palavra de Deus (Papa Francisco, Ângelus, 6 de agosto 2017).
2. Deixar-se transformar, porque a vida sacerdotal não é um programa onde tudo está organizado com antecedência ou um trabalho burocrático que se desenvolve segundo um esquema pré-estabelecido; ao contrário, essa é a experiência viva de uma relação cotidiana com o Senhor, que nos faz tornar sinais do seu amor com o povo de Deus. Por isso, “não podemos viver o ministério com alegria sem viver momentos de oração pessoal, face a face com Senhor, falando, conversando com Ele” (Papa Francisco, encontro com os párocos de Roma, 15 de fevereiro 2018). Nesta experiência, somos iluminados pelo rosto do Senhor e transformados com a sua presença. Também a vida sacerdotal é um “deixar-se transformar” da graça de Deus porque o nosso coração torna-se misericordioso, inclusivo e compassivo como o coração de Cristo. Se trata simplesmente de ser, como nos recordou recentemente o Santo Padre, dos “padrões normais, simples, mansos, equilibrados, capazes de deixar-se constantemente regenerar-se pelo espírito” (Papa Francisco, homilia com celebração eucarística junto aos Missionários da Misericórdia, 10 de abril de 2018). Esta restauração vem antes de tudo através da oração, que muda o coração, transforma a vida: cada um de nós se torna aquele que reza. É bom recordar, nesta jornada de santificação, que “a santidade é feita de abertura habitual à transcendência, que se exprime na oração e na adoração. O santo é uma pessoa do espírito orante, que precisa de comunicar-se com Deus” (Papa Francisco, Gaudete et Exsultate, n. 147). Subindo ao monte, seremos iluminados com a luz de Cristo e poderemos descer ao vale, levar a todos a alegria do Evangelho.
3. Ser luz para o mundo, porque a experiência do encontro com o Senhor nos envia na estrada do serviço aos irmãos, a sua Palavra rejeita de ser fechada na privacidade da devoção pessoal e no perímetro do tempo e, sobretudo, a vida sacerdotal é uma chamada missionária, que exige a coragem e o entusiasmo de sair desse mesmo para anunciar ao mundo inteiro o que ouvimos, vemos e tocamos com a nossa experiência pessoal (cf. 1Jo 1,1-3). Fazer conhecer aos outros a ternura e o amor de Jesus, por que cada um possa ser alcançado da sua presença que liberta do mal e transforma a existência, é o primeiro trabalho da Igreja e, por isso, o primeiro grande empenho apostólico dos presbíteros. Um desejo que devemos cultivar é aquele de “ser padres capazes de levantar no deserto do mundo o sinal da salvação, isto é a cruz de Cristo, como fonte de conversão e de renovação para toda a comunidade e para o mundo” (Papa Francisco, homilia na celebração eucarística com os Missionários da Misericórdia, 10 de abril de 2018). O fascínio do encontro com o Senhor deve encarnar-se em um empenho de vida a serviço do povo de Deus que, progredindo constantemente no vale escuro das fadigas, do sofrimento e do pecado, precisa de pastores luminosos e radiantes como Moisés. De fato, “ao término da experiência admirável da transfiguração, os discípulos desceram do monte” (cf. v.9). É o percurso que podemos cumprir também nós. A redescoberta sempre mais viva de Jesus não é um fim a si mesma, mas nos induz a “descer do monte “… transforma-te da presença de Cristo e do ardor da sua palavra, seremos sinal concreto do amor vivificante de Deus para todos os nossos irmãos, especialmente para quem sofre, pelos que se encontram na solidão e no abandono, para os doentes e para a multidão de homens e de mulheres que, em diversas partes do mundo, são humilhados pela injustiça, pela prepotência e pela violência” (Papa Francisco, Ângelus, 6 de agosto de 2017).
Caros sacerdotes, a beleza deste dia, consagrado ao Coração de Jesus, possa fazer crescer em nós o desejo da santidade. A Igreja e o mundo precisam de sacerdotes santos! O Papa Francisco, na nova Exortação Apostólica sobre a santidade, “Gaudete et Exsultate”, chamou a memória dos sacerdotes apaixonados no comunicar, de anunciar o Evangelho, afirmando que “a Igreja não precisa de tantos burocráticos e funcionários, mas de missionários apaixonados, devorados do entusiasmo de comunicar a verdadeira vida. Os santos surpreendem, se deslocam, porque suas vidas chamam a sair da mediocridade tranquila e anestesiante” (Papa Francisco, “Gaudete et Exsultate”, n.138). Será necessário cumprir, antes de tudo interiormente, este caminho de transfiguração: subir ao monte, deixar-se transformar no Senhor, para depois se tornar luz para o mundo e para as pessoas que nos são confiadas. Possa Maria Santíssima, mulher luminosa e mãe dos sacerdotes, acompanhá-los e protegê-los sempre.
Cardeal Beniamino Stella - Prefeito da PONTIFÍCIA Congregação para o Clero
Dom Joel Mercier - Arcebispo titular de Rota – secretário
Jorge Carlos Patrón Wong - Arcebispo-bispo emérito de Papantla – secretário
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